A Ivo Linhares.
Via aqueles quadris balançando enquanto mexia a colher na panela e se
inquietava todo no sofá. A TV nada lhe convencia em tirar os olhos daquela
dança envolvente de fêmea no cio. Mas não. Quem estava no cio era ele.
Havia tempo do falecimento de sua amada esposa. Havia perdido o gosto
pelo amor e desacreditado nas paixões.
Porém, sua carne não lhe dava sossego latejando diariamente por uma
pele outra a tocar a sua durante, pelo, menos breves momentos. Isso já lhe faria
apaziguado dessas febres que a carne nos insere, nós, meros humanos.
O balançar das coxas por debaixo da saia comprida continuava nos vai e
vens que ela dava pela cozinha. Será que suas mãos tocavam um pênis tão suave e
certeiramente como amaciava os lençóis de sua cama? Será que sua pele e vulva
tinham tempero qual como suas delícias na cozinha? De pensar, sua boca se
enchia d’água. De imaginar aqueles seios macios e empinados arfando diante do
seu, enquanto lhe possuísse num canto daquela cozinha, sim! Ali mesmo...
- Porra, meu pau tá duro (ela vai ver!!).
Sentiu vergonha.
Ela.
Uma mulher jovem, que, depois de um relacionamento longo e desgastante
com um homem que nunca aprendera a lhe respeitar, havia se resignado à solidão.
“Antes só que mal acompanha”, dizia o ditado. Pelo menos não tinha que se
preocupar com traições e brigas dentro de casa. Outro dia, como
corriqueiramente fazia, veio com uma saia comprida, estampada. Mas, quando ela
ficou encostada na porta, repetindo aqueles movimentos circulares ao limpar o
vidro, ele ficou estático. Diante da luz, o corpo dela ficou completamente
torneado e lhe possibilitou o prazer efêmero de ver o desenho exato de seus
quadris e a divisão sutil e profunda de sua vulva. Estremeceu. Seus pelos se
arrepiaram. Seu pênis começou a latejar dentro da calça, como a muito tempo não
sentia, clamando por um toque, um mero toque de uma outra pele per si, e, se
lhe desse a licença de penetrar-lhe um orifício, ah! Chegaria a plenitude da
felicidade de uma boa gozada. Afinal, que mais se espera depois dos 50?
Ela percebeu.
Juntos sentiram exalar os odores dos corpos que anseiam pelos beijos e
toque s lascivos. Juntos, e sabiam, desejaram-se.
Começou a investir. A lhe olhar de forma mais direta e demorada. A
percorrer seu corpo com os olhos, descaradamente, todos os dias. As vezes lhe
batia uma vergonha: “que ela vai pensar de mim? Será que me daria alguma
ousadia? Mas seu desejo lhe dava coragem suficiente pra cortejar aquela
rapariga como se tivesse no auge de seus 21 anos.
E ela gostava. Ria, olhava pra ele com cara de vergonha embutida
somente para lhe provocar os ânimos. Certa feita, num dia de muito calor, logo
depois das atividades rotineiras pôs-se a banhar em sua casa. Como ele havia
saído, ela deixou a porta do banheiro aberta. O banho seria rápido. Mas ele
precisou voltar em casa: esquecera o celular em cima da cama.
Entrou no quarto e ouviu o som da água. Ela escutou sua presença e
continuou o banho. Antes mesmo de vê-la através do box transparente do
banheiro, pode imaginar as águas a lhe correr cada parte daquele lindo corpo
que diariamente desejava. Viu. Sentou na cama e ficou esperando ela sair.
Gotas de água lhe desciam as costas quando o viu no quarto. Estremeceu.
Tapou os seios e arregalou os olhos instantaneamente.
Levantou-se e a beijou. Foi estranho. Não fazia isso há anos. Ela
deixou que ele invadisse sua cintura por debaixo da toalha que ainda escondia
parte de seu corpo nu. Aos poucos seus lábios encontraram uma sintonia de
movimentos que acompanharam suas mãos.
O semblante dela agora era doce e quente. Seus seios subiam e desciam
ao movimento da respiração ofegante que lhe começava agoniar o corpo enquanto a
boca daquele homem se perdia – ou se encontrava – nas aureolas de seus seios e
nas curvas de sua virilha. Começou a sentir leves tremores quando sua língua
encontrou seu clitóris e seus dedos lhe começaram a invadir a abertura de sua
vagina e de seu ânus. Pequenos gritos de prazer tomaram conta do quarto,
naquela tarde quente de verão: era ela. Ele a comia. Sim, comia literalmente
sugando com sua boca todo o sumo que lhe descia do ventre. Quanto mais ele
chupava sua vagina, mais seu pênis latejava pra lhe penetrar. Sentiu um
arrepio: e se ele falhasse? E se o pau ficasse mole bem na hora?
Ela percebeu sua insegurança. Levantou e se deitou por cima de seu
corpo. Olhou profundamente em seus olhos e, lambendo-lhe a boca, começou a
descer por seu o peito até chegar em seu pênis. Ah! Que delícia era sentir a
boca de uma mulher a lhe chupar. Era como se rejuvenescesse trinta anos. Lembrou
de suas trepadas da juventude, quando não havia outras preocupações que não
fosse usufruir das aventura sexuais vividas com sua amigas de universidade e
com as garotas de programa – que, aliás, lhe ensinaram maior parte das artimanhas
sexuais de seu tempo. Fora absorvido de suas lembranças quando de repente ela
sentou em seu pau e pôs-se a mexer os quadris numa busca incessante de prazeres
infindáveis. Gemidos roucos de ambos se misturaram. A carne dela palpitava
enquanto gozava inúmeras vezes. Ele também não resistiu muito tempo e gozou,
dentro dela. Mesmo com o coração disparado e a respiração ofegante, não sentiu
medo, pelo contrário, se morresse naquele momento, seria plenamente feliz e
agradecido pela dádiva recebida.
Vinte anos mais tarde, ele morria. Mas durante esses últimos,
tornaram-se companheiros e cúmplices de uma vida temperada com afeto, paciência
e ternura, onde diariamente, não lhes faltava calores e sabores. Re-encontraram
a felicidade.
Imagem: http://inglesado.tumblr.com/page/3