domingo, 3 de agosto de 2014

A Roupa do Corpo



Quantas peles temos?
Quantas possibilidades de expressão perdemos?

Outra feita me peguei pensando em quantas cores tem os gemidos de peles que se esfregam num frenesi infinito... Talvez cor de céu feliz com a lambida do sol ou intenso como clarões de relâmpagos espasmáticos numa tempestade de verão.

Tolice pensar que sexo está centralmente ligado a corpo, membros e seus tamanhos ou mesmo às formas instantaneamente prontas de pegar, enfiar, como tantas vozes ecoam por aí...

Há algo mais sagrado que sentir a Vida a sair pelos poros de outra pessoa que, de encontro aos nossos, se expõe, se entrega, se perde, se adentra reencontrando-se?

Viva a arte do encontro... Das cores indecifráveis de nossas peles...
E das conjugações do verbo Permitir-se!!!

Dedicado a H. P.



sábado, 19 de outubro de 2013

Aos Cinquenta







A Ivo Linhares.

Via aqueles quadris balançando enquanto mexia a colher na panela e se inquietava todo no sofá. A TV nada lhe convencia em tirar os olhos daquela dança envolvente de fêmea no cio. Mas não. Quem estava no cio era ele.

Havia tempo do falecimento de sua amada esposa. Havia perdido o gosto pelo amor e desacreditado nas paixões. 

Porém, sua carne não lhe dava sossego latejando diariamente por uma pele outra a tocar a sua durante, pelo, menos breves momentos. Isso já lhe faria apaziguado dessas febres que a carne nos insere, nós, meros humanos.

O balançar das coxas por debaixo da saia comprida continuava nos vai e vens que ela dava pela cozinha. Será que suas mãos tocavam um pênis tão suave e certeiramente como amaciava os lençóis de sua cama? Será que sua pele e vulva tinham tempero qual como suas delícias na cozinha? De pensar, sua boca se enchia d’água. De imaginar aqueles seios macios e empinados arfando diante do seu, enquanto lhe possuísse num canto daquela cozinha, sim! Ali mesmo... 

- Porra, meu pau tá duro (ela vai ver!!).
 Sentiu vergonha.

Ela.
Uma mulher jovem, que, depois de um relacionamento longo e desgastante com um homem que nunca aprendera a lhe respeitar, havia se resignado à solidão. “Antes só que mal acompanha”, dizia o ditado. Pelo menos não tinha que se preocupar com traições e brigas dentro de casa. Outro dia, como corriqueiramente fazia, veio com uma saia comprida, estampada. Mas, quando ela ficou encostada na porta, repetindo aqueles movimentos circulares ao limpar o vidro, ele ficou estático. Diante da luz, o corpo dela ficou completamente torneado e lhe possibilitou o prazer efêmero de ver o desenho exato de seus quadris e a divisão sutil e profunda de sua vulva. Estremeceu. Seus pelos se arrepiaram. Seu pênis começou a latejar dentro da calça, como a muito tempo não sentia, clamando por um toque, um mero toque de uma outra pele per si, e, se lhe desse a licença de penetrar-lhe um orifício, ah! Chegaria a plenitude da felicidade de uma boa gozada. Afinal, que mais se espera depois dos 50?

Ela percebeu.
Juntos sentiram exalar os odores dos corpos que anseiam pelos beijos e toque s lascivos. Juntos, e sabiam, desejaram-se.

Começou a investir. A lhe olhar de forma mais direta e demorada. A percorrer seu corpo com os olhos, descaradamente, todos os dias. As vezes lhe batia uma vergonha: “que ela vai pensar de mim? Será que me daria alguma ousadia? Mas seu desejo lhe dava coragem suficiente pra cortejar aquela rapariga como se tivesse no auge de seus 21 anos.

E ela gostava. Ria, olhava pra ele com cara de vergonha embutida somente para lhe provocar os ânimos. Certa feita, num dia de muito calor, logo depois das atividades rotineiras pôs-se a banhar em sua casa. Como ele havia saído, ela deixou a porta do banheiro aberta. O banho seria rápido. Mas ele precisou voltar em casa: esquecera o celular em cima da cama.

Entrou no quarto e ouviu o som da água. Ela escutou sua presença e continuou o banho. Antes mesmo de vê-la através do box transparente do banheiro, pode imaginar as águas a lhe correr cada parte daquele lindo corpo que diariamente desejava. Viu. Sentou na cama e ficou esperando ela sair.

Gotas de água lhe desciam as costas quando o viu no quarto. Estremeceu. Tapou os seios e arregalou os olhos instantaneamente.

Levantou-se e a beijou. Foi estranho. Não fazia isso há anos. Ela deixou que ele invadisse sua cintura por debaixo da toalha que ainda escondia parte de seu corpo nu. Aos poucos seus lábios encontraram uma sintonia de movimentos que acompanharam suas mãos.

O semblante dela agora era doce e quente. Seus seios subiam e desciam ao movimento da respiração ofegante que lhe começava agoniar o corpo enquanto a boca daquele homem se perdia – ou se encontrava – nas aureolas de seus seios e nas curvas de sua virilha. Começou a sentir leves tremores quando sua língua encontrou seu clitóris e seus dedos lhe começaram a invadir a abertura de sua vagina e de seu ânus. Pequenos gritos de prazer tomaram conta do quarto, naquela tarde quente de verão: era ela. Ele a comia. Sim, comia literalmente sugando com sua boca todo o sumo que lhe descia do ventre. Quanto mais ele chupava sua vagina, mais seu pênis latejava pra lhe penetrar. Sentiu um arrepio: e se ele falhasse? E se o pau ficasse mole bem na hora?

Ela percebeu sua insegurança. Levantou e se deitou por cima de seu corpo. Olhou profundamente em seus olhos e, lambendo-lhe a boca, começou a descer por seu o peito até chegar em seu pênis. Ah! Que delícia era sentir a boca de uma mulher a lhe chupar. Era como se rejuvenescesse trinta anos. Lembrou de suas trepadas da juventude, quando não havia outras preocupações que não fosse usufruir das aventura sexuais vividas com sua amigas de universidade e com as garotas de programa – que, aliás, lhe ensinaram maior parte das artimanhas sexuais de seu tempo. Fora absorvido de suas lembranças quando de repente ela sentou em seu pau e pôs-se a mexer os quadris numa busca incessante de prazeres infindáveis. Gemidos roucos de ambos se misturaram. A carne dela palpitava enquanto gozava inúmeras vezes. Ele também não resistiu muito tempo e gozou, dentro dela. Mesmo com o coração disparado e a respiração ofegante, não sentiu medo, pelo contrário, se morresse naquele momento, seria plenamente feliz e agradecido pela dádiva recebida.

Vinte anos mais tarde, ele morria. Mas durante esses últimos, tornaram-se companheiros e cúmplices de uma vida temperada com afeto, paciência e ternura, onde diariamente, não lhes faltava calores e sabores. Re-encontraram a felicidade.

Imagem: http://inglesado.tumblr.com/page/3 

sábado, 6 de julho de 2013

Sexo Insipiente



Tenho visto muitas pessoas dizerem com propriedade de sexo e que fazem sexo. 
Algumas contam vantagem com a quantidade de transas que teve aqui ou acolá, se preocupando mais com quantidade que com qualidade.

Um sociólogo, Zygmunt Bauman, tece seus argumentos sobre a sociedade atual nos fazendo perceber que temos nos relacionado com as pessoas igualmente nos relacionamos com os objetos que consumimos.
São relações "líquidas" onde tornamos @ outr@ nosso objeto de uso, de desejo momentâneo, como se fosse algo material e não uma pessoa.
Nos esquecemos então do que significa ser uma pessoa?
O ser humano é um um conjunto de características, histórias, culturas, sentimentos e ideias. Possui uma corporalidade e subjetividade.
Não é um objeto.
É um Ser.
Por que então temos nos tratado como "coisas"?

No sexo, pra satisfazer nosso desejo estabelecemos uma relação com outra pessoa ou objeto. 
Natural sentirmos prazer por meio de estímulos com outrem. Porém, fazer do outr@ somente uma via de acesso ao prazer é uma violência.
Não se preocupar com o que a outra pessoa sente ou deseja, como se fosse uma coisa é absurdamente arcaico e sórdido. 

Fico pensando no desperdício que é tornar uma relação sexual, que pode ser via de sentimentos e boas energias, em meros estímulos e secreções. 
Já é tão difícil encontrar uma pessoa legal pra conversar e partilhar saberes, muito mais pra se ir pra cama, algo que hoje ficou tão banal.

Importante refletirmos que um encontro de corpos não é somente uma junção de fluídos, mas principalmente uma troca de sensações, uma partilha de universos, uma conexão de almas...
Logo suscita uma intimidade, e esta para existir necessita de tempo, cumplicidade e respeito entre @s envolvid@s... Algo que não se estabelece numa única e rápida trepada.

Será por isso que reclamamos tanto da solidão e desilusão sofridas na relações relâmpago que ocorrem atualmente?

Temos sido rasos/as, fugidios, superficiais... Criamos cápsulas impermeáveis ao nosso redor.
Quem foge disso, quem se deixa ser intens@, abert@, se fere e, logo, se lacra. 
Porque hoje não temos nos tocado. E por isso terminamos nos ferindo quando encostamos no/a outro/a.
Nós temos aprendido a ferir e a usar as pessoas, mas não abrimos espaço para uma via sincera de sentimentos. Temos feito tão pouco isso que perdemos a prática. E nos assustamos quando alguém chega até nós e diz: estou namorando ou vou me casar. A primeira coisa que pensamos é que se está tendo uma atitude de burrice, loucura ou muita coragem.

Tudo que sei de minhas percepções e vivências é que somos plenamente capazes, ou pelo menos podemos ser, se assim quisermos, de estabelecer vias de boas energias e sentimentos... Onde tocar a outra pessoa se torne motivo de crescimento e alegria, respeito e ternura.

Afinal, se não me engano, somos seres de sensações.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Invasões





Os olhares voltados para a rua.
Ninguém poderia imaginar que...
Ela abriu a porta, vestida de blusa e saia longa.
Ele decifrou no seu olhar todo o desejo que a possuía naquele momento.
Trancou rapidamente a porta, enquanto ele já lhe beijava os lábios umedecidos de prazer e loucura...

Há dias se desejavam... Há dias se devoravam por um mero bate-papo virtual.
Seus lábios desciam seu longo pescoço até achar seus lindos e pequenos seios que arfavam ao toque das mãos daquele homem sobre si.
Ali, encostados na parede, juntos à porta, de pé...
Ele puxou sua saia, procurando como louco terminar de tatear aquele longo tecido que cobria algo misterioso... Que ele ficava imaginando cada vez que ela passava pela rua... Como será esta mulher?

Quando conseguiu tocar sua pele macia, escorregou seus dedos por sua virilha e percebeu, doido, que ela não usava calcinha.
Mergulhou seus dedos entre suas pernas, no seu ventre macio e molhado a enlouqueceu com seu toque invasivo... Sim, era uma invasão de prazer e loucura...

Ele não poderia estar ali.

Ela ficou tonta enquanto os espasmos a invadiam e amoleciam suas pernas.
Foram pra cama.
Camisinha.

- Me penetra devagar... Quero te sentir plenamente...

Mãos e línguas perdidas, atônitas, evasivas...
Murmúrios de intenso calor, desejo, loucura... Espasmos de orgasmos misturados ao balançar frenético dos corpos alucinados por um instinto humano suplicante de tato e gozo.

Perderam-se... Misturaram-se... Deixaram de si no outro... Abandono de razão.
Viram-se mais adentro... Permitiram-se a loucura de possuir o livre arbítrio do prazer e do encanto.
Foram deuses, mesmo que por breves momentos, infinitos.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Orgasmo Feminino: um universo misterioso?





Hum... Todos os dias vejo mais gente falando como se deve viver e obter prazer na vida. 
Dentre os maiores prazeres, o orgasmo tem sido alvo de muitos estudos e especulações.

O que mais me inquieta é a reprodução, ainda presentes nos discursos sobre sexo, de que a mulher precisa disso ou daquilo pra chegar ao prazer. Quando na verdade Ela não precisa de ninguém, a não ser dela própria, na medida em que a mesma conhece, compreende e respeita seu próprio corpo.

Durante séculos, o sexo foi enclausurado e/ou reduzido no quarto, no casamento, no pênis e na procriação.
Hoje, assunto comum, virou ferramenta pra chegar ao prazer, na maior parte dos casos sem necessitar da participação de uma outra pessoa nesta suposta relação sexual, como é o caso da masturbação.

Calma. Não estou aqui a dizer que orgasmo, pra acontecer, depende de um/a parceir@ ou somente de uma motivação - brinquedos, fotografias e vídeos pornôs, imaginação, parceir@ virtual. Também. Mas não é só isso.

Dentro da história o orgasmo feminino foi tratado como um "universo misterioso". Na verdade, este universo durante muito tempo foi manuseado e conceituado pela ciência, onde, quase sempre correspondeu a interesses biológicos, ou seja, durante muito tempo procurou-se saber qual a função do orgasmo feminino e e se ele realmente existia, no intuito de compreender qual sua importância na procriação. 
Logo, várias pesquisas manifestaram que a mulher precisava da cópula, ou penetração, para chegar ao orgasmo.  

Freud afirmava que a mulher madura seria aquela que transferia o orgasmo clitoriano para a vagina. A mulher que não conseguia ter orgasmo durante a penetração, por certo não tinha amadurecido psiquicamente, logo possuía alguma neurose - histeria. O "normal", então, era gozar pela vagina. Um discurso um tanto machista que instituía que a mulher precisa do homem pra sentir prazer, e que, sem ele, era vista como anormal. Ou seja: o sexo girava em torno do prazer masculino e do objetivo maior para o qual era visto: procriação.

Muitos outros estudos foram realizados em torno do orgasmo feminino questionando: pra que serve? só se goza pela manipulação do clitóris? somente pela penetração da vagina? ou por ambos meios? a mulher ejacula? existe diversos tipos de orgasmos? o ponto G existe? o orgasmo tem importância para fecundação?

De várias pesquisas já se concluiu que a mulher tem capacidade para sentir diversos orgasmos e diversas maneiras de chegar até lá. Algumas mulheres não gozam com a penetração vaginal; outras não sentem prazer na penetração anal, enquanto outras atingem orgasmos intensos; algumas mulheres ejaculam durante o orgasmo (pela manipulação do clitóris e/ou penetração) de molhar a cama, enquanto outras não expelem nenhuma secreção; algumas mulheres têm orgasmos múltiplos (que podem chegar a mais de vinte, com intensidades diferentes), enquanto outras sentem menos de cinco, as vezes só um, por relação.

O que mais me inquieta é que, mesmo com as descobertas de que a forma (as vezes mais intensa) da mulher sentir orgasmos é por meio da manipulação do clitóris, muitas mulheres ainda não o conhecem. Por que? Por que muitas mulheres não se masturbam? 

Ainda existe um discurso muito forte, principalmente religioso e moral, que institui que é errado a mulher tocar seu corpo pra sentir prazer, enquanto que aos homens é motivada a masturbação desde pequenos. Que a mulher deve sentir prazer com o homem, no casamento - esperar pelo homem para senti-lo - pois esta é a forma "natural" de se ter prazer. Tais discursos heteronormativos terminam instituindo à mulheres seus papéis de gênero e sociais... E as relações homoafetivas? Terminam sendo vista como anormais, reproduzindo assim estereótipos, preconceitos e atos homofóbicos/sexistas.

Enquanto isso, muitas mulheres, desde a adolescência, se privam de conhecer seu corpo, de sentir prazer e de se empoderar de si mesmas. Enquanto isso, muitas mulheres ficam dependentes de um parceiro pra iniciar a descoberta de um corpo que já seu. Estes discursos inferem nos papéis de gênero de nossa sociedade na medida em que institui que o homem é quem deve desvelar a mulher e seu corpo como se somente a ele isso fosse permitido, como se fosse o homem o "dono" do corpo da mulher...

Tendo hoje a família ganhado novos formatos e novos valores, boa parte das adolescentes começam a conhecer seu corpo e o prazer que o mesmo pode lhe propiciar bem mais cedo do que as mulheres que nasceram nas décadas de 70, 80. E, talvez, com esta nova configuração familiar, os enfrentamentos maiores agora não são mais com a consciência sobre seu próprio corpo, mas o que fazer com ele e quais cuidados deve se ter durante as relações sexuais buscando sempre respeitar os limites e possibilidades que esta pode propiciar.

Conhecer o próprio corpo é uma direito e uma das formas da Mulher ter empoderamento. Mas não é só isso: conhecimento também é uma das mais infinitas fontes de poder. 
Anseio pelo tempo em que possa encontrar mulheres mais livres de preconceitos e com mais coragem de se conhecer e de viver, independentes de estarem acompanhadas ou não; mas, principalmente, empoderadas de Si.


Dicas de reflexão: 
Livro: O que é afinal o orgasmo feminino? Teorias e mitos. Maria Nadege de Souza.

Documentário: Por que sexo é divertido? Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=dj9fBiP4clM

Imagens: sites Afroerotic e google.